Os campos loiros e as ceifas na estrada avisam: é hora de colher

A paisagem é deslumbrante. O campo de trigo brilha, sob o sol a pino, muito dourado. O céu está azul, limpo. O calor intenso vai levando das espigas o que resta do orvalho da manhã. Estamos prontos para a colheita.

Algumas semanas atrás, Elton pelo telefone já havia nos avisado: o trigo estava dourando – “loirando” como se diz por lá – e só precisaríamos de mais alguns dias sem chuva para secar bem os grãos. Se quiséssemos participar da colheita, precisaríamos preparar logo as malas. 

Como recusar esse convite? Como não pisar no chão da nossa lavoura? Como não conhecer, em primeira mão, o trigo que será o nosso pão? 

Com essas imagens na cabeça, voamos para Chapecó no oeste catarinense. E de lá rumamos de carro para Constantina (RS) com a melhor companhia: a equipe d’A Padeira – as queridas Alethea, Carol e Géssica.

A estrada que liga Santa Catarina ao Rio Grande do Sul passa pelo lindo vale do rio Uruguai. À medida que vamos nos aproximando de Constantina, os silos metálicos vão se erguendo gigantes no horizonte. As lavouras de trigo vão dominando a paisagem. E, na estrada de pista simples, cruzamos com um trânsito intenso de colheitadeiras – as “ceifas”. É sinal que de o trabalho no campo está a todo vapor.

Encontramos o Elton ocupado, já na lavoura, aprontando os últimos detalhes das máquinas. Ele insiste que cada um de nós pilote – mesmo que um tiquinho – a colheitadeira.

Os comandos de uma colheitadeira, claro, não tem nada a ver com as de um carro. A única semelhança é o volante, redondo, no meio das alavancas, relógios e pedais. Elton nos explica com paciência onde está a embreagem, o freio, o acelerador, como se regula a altura da plataforma.

Mas, na prática, a teoria é outra. Com a máquina em movimento, nos esbaforimos com os comandos todos fora do lugar. O Elton vai ajudando ao lado na boleia, claro. Mas também ri alto do nosso desespero. Que diversão! E que privilégio: nós, padeiros da cidade, colhendo nosso próprio trigo. 

Agora é preciso descarregar os grãos. Acionamos outras alavancas e uma cacheira de trigo sai da colheitadeira e vai enchendo o “carretão”. 

Um cheiro muito familiar sobe dos grãos que se esparramam. O trigo recém colhido tem o mesmo aroma da farinha que sai do nosso moinho de pedra, semanalmente, lá em São Paulo. 

Ou melhor: que o nosso pão carregue agora o aroma desse momento, dessa lembrança. 

Leia a primeira parte e a segunda parte da série de posts sobre o nosso plantio de trigo.


Este projeto é uma parceria da Farinoca com A Padeira e a Família Woss.

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